segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Legislativo pode se submeter ao executivo na disputa por financiamento do plano de educação


Pedidos da área econômica do governo fizeram relator adiar apresentação do PNE pela sexta vez; deputados da base são maioria a pedir ampliação de investimento para ao menos 8,3% do PIB, mas governo não quer sair dos 7%

A programada leitura do Plano Nacional de Educação (PNE) foi adiada pela sexta vez desde outubro. O projeto deveria ter sido apresentado na última quinta-feira, e seu texto final, debatido intensamente por parlamentares e sociedade civil, segue desconhecido pela população. A discussão do projeto na Câmara já completa um ano neste mês.

De acordo com o relator da Comissão Especial que analisa o PL 8035/2010, deputado Ângelo Vanhoni (PT-PR), a decisão de adiar a leitura mais uma vez se deve ao fracasso na negociação com o próprio governo da meta 20 do PNE, que determina um índice de investimento na educação vinculado ao Produto Interno Bruto, para os próximos dez anos.

“A ministra Gleisi [Hoffman, da Casa Civil] me ligou solicitando esse espaço de tempo para que a gente pudesse conversar. As conversas são difíceis, não estamos tratando de poucos recursos, estamos tratando da educação brasileira, investimento público para creches, formação de doutores e mestres, de toda a estrutura do sistema educacional brasileiro e dos recursos necessários para que o Brasil dê um passo a mais no resgate da dívida histórica que tem com a nossa educação”, disse Vanhoni durante a sessão em que a leitura foi adiada. 

A proposta original do governo era de 7% do PIB (entre investimentos da União, estados e municípios). Após os trabalhos da Comissão, Vanhoni chegou a declarar que a meta desejável seria de 8,29%. Já organizações da sociedade civil e entidades que acompanharam a elaboração do plano desde seu início, como o Conselho Nacional de Educação (CNE), as participantes da Conferência Nacional de Educação (Conae – 2010), e o Movimento PNE pra Valer! defendem a meta de 10%. 

O cálculo de 10% é essencial para “determinar critérios de expansão de qualidade”, afirmou Daniel Cara, da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação. Deputados da Comissão como Professora Dorinha Rezende (DEM-TO), e do próprio PT, como Fátima Bezerra (RN), também são a favor de mais recursos. Na reunião que ocorreu na quinta de manhã, Fátima chegou a dizer que “7% não dá” (leia mais aqui sobre as posições dos deputados).

Pressão da Casa Civil

Na quarta-feira à noite, o deputado Vanhoni participou de reunião com os ministros Fernando Haddad (Educação), Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Gleisi Hoffman (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda), porém, não chegaram a um acordo. Os ministros pediram mais tempo, e a alegação é uma viagem da presidenta à Venezuela nesta semana. 

O relator informou que irá protocolar o documento na Comissão Especial na segunda-feira (5) e fazer a leitura na terça, às 14h. Vanhoni deve fazer esse procedimento de maneira virtual, sem comparecer presencialmente à Casa. Entidades que acompanham a tramitação prometem seguir de perto o processo, e pressionar para que a promessa de protocolo seja cumprida na segunda. 

O direcionamento do relatório que será lido na terça-feira, diz Daniel Cara, dependerá da coragem de Vanhoni. “Ele fez conta dele”, diz Daniel, referindo-se ao 8,29%. “Se for [apresentado] um valor abaixo disso, ele se submete a vontade do governo federal. Espero que ele seja corajoso. O dever de um parlamentar é ser corajoso”. 

Apesar de o assunto da meta financeira ter tomado o noticiário nacional, ele não é a única divergência do PNE. Outro ponto importante é a concepção final de educação. A Campanha teve acesso a uma versão do relatório, e afirma que há diferentes concepções de educação em jogo. “Tem que apresentar um bom plano. Se não for, vamos trabalhar para que ele melhore. Se for 7% [do PIB para a educação] e com boa concepção de educação, vamos apresentar emendas”.


Calendário

Após a leitura do relatório do PNE no dia 6, a Câmara tem mais cinco sessões para possíveis mudanças, ou seja, até dia 15, no máximo. Se houver pedido de vistas ao processo – o que certamente acontecerá – o prazo se estende até dia 20 ou 21. O risco, porém, é que os trabalhos na Câmara vão até o dia 22 de dezembro. 

E, caso a aprovação e o envio para o Senado tenha que ser adiado para o ano que vem, corre-se o risco de não aprovação pelo fato de 2012 ser um ano eleitoral, como apontado pela deputada Fátima Bezerra na reunião da comissão do dia 01/12.


Nesse cenário, o país ficaria pelo segundo ano consecutivo sem nenhum plano de educação. O que faz com que estados e municípios atrasem os seus também, sem um modelo nacional a seguir.

A aprovação nesse ano, para Daniel, é algo secundário. O fundamental é a apresentação do plano para a sociedade. O governo tem acesso ao PL desde o final de outubro. “A questão fundamental é que possamos participar da aprovação, brigando para que o jogo recomece”. Nessa lógica, é melhor ser apresentado agora, mesmo que ruim - pois existirão espaços para melhoras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário