Bom para copiar

Por Lucila Cano

Assisti a um filme publicitário na televisão que me deixou curiosa: algumas pessoas nas calçadas, em atitude de quem vai pedir carona para os carros que passam, seguram pequenas placas com letreiros, cada qual com uma palavra, como, por exemplo, “educação”, “transporte”, “saúde”. Pelo áudio, entendi a proposta do filme e me entusiasmei com a ideia: a Câmara Municipal de São Paulo quer saber quais são as prioridades de quem vive na cidade para que, em 2012, os vereadores trabalhem orientados pelos desejos e interesses dos cidadãos.

Posso estar equivocada, mas não me recordo de nenhuma manifestação desse tipo por parte da Câmara Municipal. Aliás, não me recordo de ter notícia de algo parecido em outra cidade do País.

Pois essa é a campanha “Você no Parlamento”, uma consulta pública da Câmara Municipal de São Paulo em parceria com a ONG Rede Nossa São Paulo, iniciada em junho e com prazo até o dia 15 de agosto, embora passível de prorrogação.

Temas de interesse para a cidade

Além da televisão, a campanha deve se estender a escolas, igrejas, empresas, entidades e lugares de grande afluência de público. Por sua vez, as 31 subprefeituras de São Paulo distribuem questionários impressos para quem quiser participar da consulta.

Outra forma de responder o questionário é pela internet, no site http://www.vocenoparlamento.org.br/. A participação é voluntária. Todo cidadão acima de 16 anos pode indicar suas prioridades entre diferentes alternativas a cada nova questão. Ao todo, são 18 temas relevantes para a qualidade de vida na cidade: inclusão para pessoas com deficiência; assistência social para pessoas e grupos em risco social; consumo e meio ambiente; cultura e lazer; desigualdade social; educação; esporte; habitação; infância e adolescência; juventude; saúde; segurança; sexualidade; tecnologia da informação; terceira idade; trabalho; transparência e participação política; transporte e mobilidade.

Essa consulta se baseia na pesquisa Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), realizada pela Rede Nossa São Paulo (http://www.nossasaopaulo.org.br/) para medir a qualidade de vida na cidade de São Paulo. A despeito de ser específica do Município, trata-se de uma iniciativa que pode servir de exemplo para ações semelhantes em outros municípios do país.

Segundo a ONG, os indicadores têm o objetivo de orientar ações de empresas, organizações, governos e toda a sociedade, considerando o bem-estar das pessoas como foco principal.

Sabor de cidadania

Se os vereadores poderão atender a todos os desejos da população de São Paulo, não sabemos. Mas é uma sensação muito boa essa de cidadania além do voto. Podemos opinar, sugerir, participar mais, estar mais presentes no dia a dia da cidade e, assim, acompanhar de perto o desempenho dos vereadores.

Naturalmente, o exercício mais intenso da cidadania deve ampliar a possibilidade de os paulistanos fiscalizarem o poder público. É um direito de todos, inerente à democracia. No entanto, essa proximidade com o que o cidadão espera dos seus representantes na Câmara pode ter efeito positivo para os próprios vereadores e o prefeito, inclusive. Afinal, a partir das prioridades definidas pela consulta pública, eles terão subsídios para agir em sintonia com a população e ainda poderão pautar suas campanhas futuras com mais acerto.

Para quem mora em São Paulo, aí está uma ocasião para eleger o que é mais importante para melhorar a qualidade de vida na cidade. Eu respondi o questionário. Garanto que 15 minutos são mais do que suficientes para assinalar as escolhas a cada novo tema.

Para quem não é de São Paulo, fica a ideia de levar essa proposta adiante e sensibilizar os representantes da sua Câmara Municipal. Mesmo que demore um tempo para ser colocada em prática, ela pode despertar as pessoas para a importância da cidadania.

No âmbito da responsabilidade social, especialistas dizem que as boas ideias devem e merecem ser copiadas. Essa consulta pública é uma delas.

*Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.

Lucila Cano

Colunista especialista em temas relacionados ao 3º setor;

assumiu a coluna em 9/4/2010